Notas Expressas

Tivemos um enxugamento do nosso corpo de repórteres, mas estamos, aos poucos, retomando o ritmo de publicação de matérias.
(atualizado em 20 de outubro de 2007)


terça-feira, 13 de dezembro de 2005

Professores da UnB decidem continuar a greve

Em assembléia categoria vota pela manutenção da greve. Decisão da ANDES sai amanhã
por Aerton Guimarães e Guilherme Rocha

A greve dos docentes da UnB continua. Na assembléia de hoje, 64 professores votaram a favor de sua manutenção e 46 contra , enquanto 7 abstiveram-se. A expectativa antes da assembléia era de que a greve, que já dura 97 dias, chegasse ao fim ainda pela manhã. Questionado sobre a possibilidade do fim da paralisação, o presidente da ADUnB, Rodrigo Dantas, preferiu não se manifestar.

E foi ele mesmo, Dantas, quem abriu as discussões. Afirmou que antes da greve a categoria não tinha nada e que agora os professores conquistaram a categoria de professor associado, 4 mil vagas para concursos públicos e aumento em suas gratificações. Quanto ao governo,a ADUnB foi clara. “Fomos tratados com descaso pelo governo, que demorou um mês após o início da greve para nos receber. O presidente recebe jogador de futebol, mas não recebe os professores das universidades federais”, ironizou. “Agora temos que pensar nos rumos do movimento. Fomos à Dilma Roussef, a Jaques Wagner, seguimos todas as possibilidades”, completou.

E os interessados em expor suas opiniões defenderam os possíveis rumos do movimento grevista. Márcio Buson, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, defendeu a manutenção da greve. “Se estas 4 mil vagas saírem, vai demorar. Isto não é para 2006”, disse. “Esta história de professor associado é mais uma esmola do governo e as gratificações não serão incorporadas”, lembrou Buson. José Luiz, da Educação, concordou. “Sair da greve não é mostrar ao governo como continuar violando a universidade pública?” Juntou-se a eles Mário César, da Psicologia: “O governo FHC fez a crise e o governo Lula a agravou. Devemos pensar em outras formas de reivindicar, mas sem enterrar a greve.”

Por outro lado, houve quem se colocasse contra a manutenção da paralisação. “Estamos três meses parados e a sociedade não se manifesta. O governo não faz nada. Devemos repensar este movimento. Sou contra a greve”, disse o professor Ivan Camargo, da Engenharia Elétrica. A professora Rachel, da Psicologia, também postou-se a favor da volta às aulas. “Devemos sair da greve. Ela está fraca. Greve de 20 pessoas não dá. Enquanto não houver solidariedade entre nós, não vamos vencer”, afirmou ela. O professor Ebenézer, da música, apoiou. “Apoiei a greve no começo, mas acho que devemos suspendê-la agora. Em vez de ver pessoas entrando, há pessoas saindo do movimento”, colocou.

Assim, o que se viu foi um grande debate em torno do fim da greve. Os argumentos mais citados pelos que defendiam a continuação dela eram que, passados esses três meses, algumas coisas já foram alcançadas. Porém, seria necessário fortalecer o movimento para alcançar outros objetivos, entre eles o de garantir que o projeto de lei encaminhado ao Congresso fosse logo votado, já que ele não está com caráter de urgência. O professor Mauro, da Psicologia, fez questão de lembrar o quão difícil é iniciar uma greve. Por isso esta deveria ser reforçada agora, caso contrário, novas paralisações serão necessárias nos próximos anos.

Os que se mostraram a favor do fim da greve colocaram a falta de solidariedade por parte da categoria de professores, a falta de mobilização da sociedade e o enfraquecimento da paralisação nacionalmente, já que atualmente apenas 32 universidades estão em greve, sendo que destas, 9 estão com indicativo de sair dela. “É um humilhação trabalhar para ser gratificado, e não remunerado”, disse a professora Rachel, “mas essa falta de solidariedade dificulta a continuação do movimento. Uns trabalham dia e noite nesta greve enquanto outros adiantam seus trabalhos em seus escritórios”, criticou.

Quanto os encaminhamentos foram colocados em regime de votação, o indicativo de saída unificada da greve (se essa opção fosse escolhida, essa decisão seria passada à assembléia nacional amanhã, representando a saída de todas as universidades da greve) recebeu 46 votos. Já o indicativo de continuidade do movimento recebeu 64 votos e 7 professores decidiram se abster.

Com a votação, os vencedores vibraram muito. Lucília dos Santos, que afirmara que o movimento está esfacelado, saiu do Comando Local de Greve por discordar da decisão da assembléia. “Acabou, nossa força ficou fraca”, justificou.
Amanhã o ANDES se reunirá já com o resultado da assembléia da ADUnB em mãos. As diretrizes da assembléia de sexta-feira dependerão do parecer do sindicato nacional.

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