Notas Expressas

Tivemos um enxugamento do nosso corpo de repórteres, mas estamos, aos poucos, retomando o ritmo de publicação de matérias.
(atualizado em 20 de outubro de 2007)


sexta-feira, 16 de dezembro de 2005

Frustração de um lado e alívio do outro

Divididos, docentes da UnB expressam seus sentimentos na assembléia decisiva para o rumo do movimento grevista
por Guilherme Rocha

A assembléia de hoje foi marcada pelo sentimento de derrota dos favoráveis à continuação da greve e pela alegria dos favoráveis ao fim do movimento. Os que quiseram falar ressaltaram o que disseram na assembléia de terça (quando a greve foi mantida). Alguns ainda tinham a esperança de manter a paralisação enquanto outros já a davam como terminada.

Foi o caso do presidente da ADUnB, Rodrigo Dantas. “Esta greve, assim como todas as outras, são responsáveis pelos nossos ganhos salariais. É um instrumento fortíssimo que nós temos. Porém, devemos pensar já em 2008 e fazer uma greve com todas as pautas, de todas as categorias. Precisamos fazer uma grande greve para ter todas as nossas reivindicações atendidas, para assim entrarmos no cenário nacional”, afirmou ele. Ele novamente valorizou o movimento. “Não conseguimos pouca coisa. Entrar em greve já é uma vitória, resistir é uma vitória, sermos recebidos pelo governo também. E nós, companheiros, conseguimos um aumento, 4 mil vagas em concursos e a categoria de professor associado.” Na assembléia de terça, Dantas insistiu no ponto de que “antes da greve não tínhamos nada”. Ele refere-se ao Projeto de Lei que o Ministério da Educação enviou ao Congresso. Tal projeto, segundo os professores, foi enviado unilateralmente e sem atender as pautas da categoria.

A ele juntou-se Marina Barbosa, presidente da ANDES (representante nacional dos professores). Ela lembrou da decisão do Comando Nacional de Greve de orientar as assembléias para sair do movimento. Segundo Marina, apenas oito das 39 universidades optaram por continuar a paralisação. “Não dá para seguir nesta situação”, disse. “O CNG debateu intensamente e com maturidade e considerou que esta batalha está longe de terminar, mas a greve agora é uma impossibilidade.” Como Dantas, ela declarou: “Conseguimos arrancar ganhos, mas este Projeto de Lei ainda não é bom para nós. A vitória não veio como queríamos, mas foi a ação que pudemos.”

Entretanto, muitos docentes não se conformaram. Entre eles, Márcio Buson, da Arquitetura e Urbanismo, e defensor do movimento grevista e até do cancelamento do semestre. “Sair da greve mostra como somos coerentes com o governo”, disse, em referência ao Projeto de Lei. “Espero que no futuro a greve só acabe com as reivindicações atendidas. Assim também disse Everaldo Pereira, da Agronomia. “Estou frustrado com isso. A greve acabou. O que estamos fazendo aqui? E quando o estudante nos perguntar, 'e aí, professor, no que deu?' Sou contrário a esta decisão do CNG.” Já José Luiz, da Educação, lembrou o Luiz Martino, da Comunicação. “Estamos apenas atrasando o final do semestre. Não é hora de recuar. Temos que politizar a greve, ir ao Congresso.”

Na contramão, estavam professores como Toninho, da Biologia. “Devemos mudar a realidade da greve. Uma, duas ou oito universidades em greve chegaram em algum lugar? Temos que melhorar; não é hora de darmos este salto. O Projeto de Lei é melhor que nada”, colocou. Ivan Camargo concordou: “Sou contrário à greve, mas não contrário à luta. Nossa força está quando nossos 20 mil estudantes estão na sala de aula. Greve deixa a universidade morta.” Maria Luiza, da Educação, também defendeu a volta às atividades. “A greve não foi de todos os docentes e o Projeto de Lei já é um ganho”.

Enfim, o lado grevista queria mais do que o Projeto de Lei propõe e o lado não-grevista se contentou com o PL e considerou o movimento enfraquecido. A votação foi esmagadora: 88 a 26; 9 abstenções. “Só nos resta continuar lutando, esperar a consumação do PL e manter a pauta contra este governo traidor”, afirmou Rodrigo Dantas, após a assembléia.

Provavelmente, o CEPE se reunirá na próxima sexta-feira para definição do novo calendário.

É... Fim de greve, companheiro.

Um comentário:

Fábio Mário disse...

A greve das Universidades em 2005 foi uma prova da patética e subalterna posição dos líderes de Agremiações Docentes Superiores diante de Vossas Excelências, os donos do Poder...